outubro 29, 2009

5:40 am # 14

Ela olhou no relógio e viu que os ponteiros marcavam 5:40 da manhã, deu um pulo do gramado, fazendo com que ele abrisse os olhos de susto. Ficou em pé e começou o puxar pra que ele também ficasse de pé.

- vem eu quero te mostrar uma coisa.

Ele a olhou com uma cara de espanto, afinal já estava quase amanhecendo. Ela continuou o puxando, até que ele se levantou. Assim que se viu de pé percebeu que novamente ela estava o puxando para ir junto com ela. Dessa vez ele não fez força, se deixou levar. Mesmo sem saber pra onde.

Saíram do parque correndo e de mãos dadas. Atravessaram a praça e foram em direção a rua estreita, com o chão de paralelepípedo e prédios antigos. Quando estavam quase chegando no final da rua ela parou e olhou pra ele dizendo:

- me ajuda aqui?!

Sem dar chances pra ele responder, ela pegou distância e pulou em cima dos ombros dele. Usando o bom reflexo ele a segurou. Não podia imaginar o que ela estava fazendo, mas sim ela estava puxando uma escada. Pulou no chão e deu um sorriso amarelo.

- vamos, o que eu quero lhe mostrar está lá em cima.

Ele ficou a olhando, sem saber se a seguia ou se falava alguma coisa. Ela percebendo que ele tinha ‘congelado’, olhou com um olhar de confiança, fazendo com ele a seguisse. Subiram as velhas escadas enferrujadas e entraram por uma janela quebrada, ela parecia conhecer bem aquele lugar.
Abriram uma porta, a qual dava pra um terraço vazio. ela pegou na mão dele e seguiu em frente. Quando viu que o relógio já marcava 06:06, o fez virar e ver o lindo sol amarelo-gema que estava acordando. Ali ficaram, de mãos dadas e em silêncio.

outubro 20, 2009

Inverno # 13

Eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça então os meus braços vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você sem dizer nada só olhando olhando e pensando em como demorou para o doce reencontro. vou seguir correndo, chegar ao seu lado e te abraçar como se tudo fosse a ultima vez.

outubro 15, 2009

Caleidoscópio # 12

nas minhas histórias de amor é sempre querível, porém nem sempre possível, estar feliz todo o tempo. às vezes brigamos por coisas bobas e sem motivo. às vezes o xampu cai no olho e faz chorar. às vezes enfrentamos tempestades e a chuva escorre nossas vontades pelo meio fio. bem quando estamos no meio do caminho sem desculpas convincentes, sem analgésicos nem guarda-chuvas.
para ver você feliz, escrevo dias ensolarados. espalho aquarela para pintar o céu com suas cores favoritas. troco luneta e faço caleidoscópio para observar estrelas e inventar constelações de meio-dia. para ver você feliz penso em planos mirabolantes para camuflar pequenas surpresas nas inevitáveis rotinas.para ver você feliz, te distraio com realidades fantásticas enquanto os furacões da vida normal passam. é só isso que posso fazer. tempo ruim é meteorológico e se você conseguir enxergar esperança, até a chuva tem sua sombra feita de arco íris e todos os dias 1° podem ser iguais indiferente da perspectiva.



(pra te ver feliz, escrevo histórias, falo de amor e acredito em 'pra sempre')

Projeções do presente # 11

sonhos são projeções do presente para doces futuros.são lugares nas histórias e músicas favoritas onde imaginamos estar.te dou os meus sonhos para juntar com os seus. tenho coleções de lindos sonhos, diferentes cores para pôr-do-sol, mapas para se perder em países distantes, perfeitas tempestades para fazer voar monotonia e uma caixa cheia de brisa para quando estiver calor.dos seus sonhos eu não sei muita coisa. mas da minha parte é isso que posso oferecer. pedacinhos de caos que surgem e voam da minha mente enquanto estou dormindo, enquanto estou ociosa ou presa em caóticos trânsitos urbanos mas pensando em lugares onde nossa nuvem polvilhada em canela e açúcar deseja estar.

outubro 13, 2009

Silêncio # 10


(Silêncio)


-Vou tomar chá de ayahuasca e ver você egípcia. Parada do meu lado, olhando de perfil.
-Vou tomar chá de datura e ver você tuaregue. Perdido no deserto, ofuscado pelo sol.
-Vamos nos ver?
-No teu chá. No meu chá.


(Silêncio)


-Quando a noite chegar cedo e a neve cobrir as ruas, ficarei o dia inteiro na cama pensando
em dormir com você.
-Quando estiver muito quente, me dará uma moleza de balançar devagarinho na rede pensando em dormir com você.
-Vou te escrever carta e não te mandar.
-Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
-Vou ver Júpiter e me lembrar de você.
-Vou ver Saturno e me lembrar de você.
-Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.
-O tempo não existe.
-O tempo existe, sim, e devora.
-Vou procurar teu cheiro no corpo de outra mulher. Sem encontrar, porque terei esquecido.
Alfazema?
-Alecrim. Quando eu olhar a noite enorme do Equador, pensarei se tudo isso foi um encontro
ou uma despedida.
-E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.


(Silêncio)


-Mas não seria natural.
-Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
-Natural é encontrar. Natural é perder.
-Linhas paralelas se encontram no infinito.
-O infinito não acaba. O infinito é nunca.
-Ou sempre.


(Silêncio)


-Tudo isso é muito abstrato. Está tocando "Kiss, kiss, kiss". Por que você não me convida para dormirmos juntos.
-Você quer dormir comigo?
-Não.
-Porque não é preciso?
-Porque não é preciso.

(Silêncio)


-Me beija.
-Te beijo.


Foi a última pessoa que viu ao sair. Tão bonita que ele baixou os olhos, sem saber sabendo que ela também o tinha visto. Desceu pelo elevador, a chave do carro na mão. Rodou a chave entre os dedos, depois mordeu leve a ponta metálica, amarga. Os olhos fixos nos andares que passavam, sem prestar atenção nos outros que assoavam narizes ou pingavam colírios. Devagarinho, conquistou o espaço junto à porta. Os ruídos coados de festas e comandos da madrugada nos outros apartamentos, festas pelas frestas, riu sozinho. Ria sozinho quase sempre, um moço queimado de sol, com a barra branca das calças descosturadas,
querendo controlar a própria loucura, discretamente infeliz.
Mordeu a unha junto com a chave, lembrando dela, uma moça magra de cabelos lisos