julho 30, 2009

Breves idéias # 7

já não sabia mais distinguir a realidade das coisas que sonhava, seus desejos se misturavam com seus medos, sua insegurança havia ficado na ultima esquina, seus cabelos agora diferentes, sua foz soava estranha quando estava na presença dele, seus dias poderia se tornar mais alegres,mas havia aquele calafrio que subia sua nuca e a deixava vermelha.
abriu seus olhos, se viu diante do mesmo espelho.
nada mudara, tudo continuava o mesmo, tudo era o de sempre.
sentou-se na mesma cadeira como de costume e achava engraçado a maneira que essa palavra ecoava em sua cabeça, talvez naquele momento vazia que a levava para algumas histórias que por alguma vez já haviam sido escritas.
tinha o costume de guarda-las na sua cabeça, com o tempo esquecer e criar uma nova com um pedacinho de cada, sem esquecer de seu pedacinho do céu.
e por quantas vezes se perdia em suas ideias olhando para ele, como se todo o azul pudesse se tornar verde e por outros momentos azul novamente, era magnifico e de fato a deixava sem palavras.

seus sonhos a deixavam confusa com sua realidade.
por breves momentos não queria acordar.
por breves ideias, amaria mudar!

julho 25, 2009

Nossas vidas # 6

era um silêncio fascinante,
ela segurava a mão dele com a esperança de não ter que soltar em mais uma partida;
por mais que fosse um novo relacionamento, tinham a sensação de estarem juntos por
uma eternidade, toda aquela saudade se transformava em uma paixão inexplicável.
por mais uma vez sentados no embarque de um local já comum para ambos;
ele disse te vejo novamente no fim de semana e a abraçou como nunca.
ela por sua vez deixou seus olhos se completarem por lagrímas.
aquele final de semana havia sido o melhor de suas vidas, ambos passaram um dos melhores momentos, não se desgrudavam e durante a noite ficavam acordados apenas pelo prazer de observar o outro ao seu lado.
um amor de novela, um carinho incrível e uma sensação maravilhosa.

infelizmente acordei ao som do despertador e aquela mensagem...

"...o amor inesplicável faz o coração bater mais depressa..." (Clarice Lispector)

julho 22, 2009

Rabiscos com clichê # 5

Já faz alguns dias que tu - Palavras- não passas por aquela janela do apartamento setecentos e alguma coisa, tampouco bate à porta. Confesso que no primeiro dia não senti saudade, bom vagar pelo mundo só e com pensamentos vazios em um beco qualquer da vida. Até foi bom dormir sem lembranças de um dia qualquer. Nas primeiras horas não fostes tão ausente assim: o papel sob a mesa, uns rabiscos com clichês (clássico), a caneta repousada por engano naquela página vazia (talvez estivesse apenas incompleta) da vida.
Depois comecei então a sentir sua falta, que pouco a pouco, foi se transformando em abstinência: os cumprimentos não respondidos, conversas mudas, o insuportável silêncio do apartamento (nem preciso citar o silêncio estarrecedor no elevador), e até mesmo o papel e a caneta estranhamente emudeceram. Tentei te procurar em alguns amigos, mas eles partiam guardando meu silêncio; desistiam! E eu mais uma vez só, me queixava, mas não contigo - Palavras – eu me queixava com... As Lágrimas quase mudas, se não fossem pelos soluços. E nem mesmo essas conseguiam expressar a falta que tu palavras me fizestes...
Lá se vão meses, e então volto àquela janela espiando como se esta fosse uma tela e descubro que o mundo não tem espaço suficiente pra mim, afinal graças a ti criei um mundo utópico. Prefiro não falar da porta ela parece adivinhar que vivo só, nesse espaço limitado e que no momento me parece insuportavelmente bom. Talvez a solidão seja o verdadeiro motivo do mundo belo que criei... Ah, não quero ficar preso aqui nessa estranha tela onde o mundo inteiro parece ter tanto espaço e ainda assim ser tão pequeno para mim.
Comecei a sentir mais ainda a tal solidão sem ti, e mais uma vez eu e meu silêncio. Senti também um desespero indescritível de me manifestar. Brado?! Desejo?! Fé! Hesitação?! Jasmim! Medo?! Ópio! Querosene?! Silêncio! Quero de volta nossos pequenos desentendimentos por causa da borracha, ou do falar sem pensar, tudo isso era apenas meus desejos de te melhorar. Ainda não escrevi o final, na verdade nem mesmo comecei, pois sem ti não tenho uma história. Até mesmo aqueles poemas ficaram pela metade. Por favor, volte, deixei a janela entreaberta e se quiser deixo a porta encostada, pois já não tenho medo do que me aconteceu, tenho medo apenas de te perder para sempre por isso quando voltar venha devagar não quero nos enganar, muito menos iludir... E não tenhas pressa, pois compreendo que precisas de tempo assim como eu para suportar o acontecido. Não te assustes Palavras quando voltar com certeza não conseguiremos apagar o que aconteceu, mas juntos conseguiremos suportar... E acabar com esse: silêncio!

julho 20, 2009

O silêncio das palavras # 4

O que há de mais belo a ser dito é dito sempre em silêncio. O silêncio que me permite olhar no espelho e ver cicatrizes na minha personalidade, marcas de aprendizados subentendidas no vazio contemplativo na interrupção dos sons externos.
O que poucos sabem, porém, é que do silêncio emana um som, e o meu silêncio tem a trilha sonora da saudade. Saudade das confissões ditas em trocas de olhares, dos pequenos momentos raros de felicidade eterna que nunca voltarão a ser vividos, dos sonhos compartilhados como se fossem matéria.
As palavras sussurram o som do silêncio e nos momentos em que olhar para dentro e me ver sem uma parte de mim é mais doloroso que olhar para fora e ter certeza de que os caminhos são feitos para que cada um encontre o seu próprio e solitário final, eu ouço o silêncio balbuciando em meus ouvidos: “…”*.

julho 15, 2009

Raymond Chandler # 6

Os ventiladores de teto giravam vagarosamente e a luz que atravessava as janelas de vidro produzia caminhos diagonais de poeira flutuante. O livro aberto na mesma página por minutos e o chocolate quente que já esfriava. Sentado no fundo da ampla sala, onde ficavam as mesas de leitura, ela observava minuciosamente pela primeira vez um senhor que lia jornais todas as tardes naquele lugar. Vestia camisa xadrez, calça marrom, usava sapatos escuros muito bem lustrados, uma boina cinza na cabeça e era cego de um olho. A xícara em que bebia seu café era tão branca quanto sua pele e os seus fios de cabelo, onde já lhe faltavam nas têmporas. Parecia sossegado e geralmente só trocava palavras com o bibliotecário e com o servente.
Mas aquela tarde era especial, tinha de ser. Aconteceu quando ele abriu “O longo adeus” de Raymond Chandler, um dos melhores livros que ela já havia lido e que terminado há algumas semanas. Reconheci pela capa e fiquei me perguntando por que ele trocaria os jornais por um livro. Também não sei porque mas sua vontade era grande de ir lá, sentar na frente dele e fazer mil e um comentários. Mais um tempo se passou, terminou seu chocolate já frio, leu mais um capítulo e foi. Desviando da vergonha se aproximou silenciosamente e:
- Com licença, senhor, posso sentar aqui?
Ele respondeu com um sorriso simpático e acenou com a cabeça. Ficou esperando alguma palavra e prontamente perguntou:
- Sabia que esse livro é muito bom? Começou a ler ele agora?
O velho deu uma risada, fechou o livro e disse:
- Eu não leio muito bem, na verdade eu já não enxergo muito. Os anos, meu filho, os anos vão passando e a gente perde tanta coisa…
- Queira me desculpar mas eu vejo sempre o senhor por aqui lendo jornais, achei que fosse muito bom da visão, apesar do seu olho… desculpe. – abaixou a cabeça com vergonha do comentário.
Nos apresentamos.Ele aparentava ser fechado, mas era só fachada, ela descobriu isso com os dias, aliás, em poucos dias se tornaram íntimos. Ele contou a respeito do seu olho esquerdo, ele foi um fuzileiro na Segunda Guerra Mundial e ficou ferido em um combate na Itália, em 1945, onde perdeu seu melhor amigo. Os assuntos sobre livros e jornais foram ficando de lado e começamos a passar as tardes naquela biblioteca conversando sobre suas vidas e histórias incríveis. Certa vez ele contou que durante a guerra, o inverno na Itália estava tão rigoroso para os soldados brasileiros que alguns deles pediam permissão pra ir em algum banheiro, canto ou loja e por lá se suicidavam. Ela descobriu que ele estava muito longe de sua cidade natal, que tinha 85 anos de idade e que vivia de uma aposentadoria a qual sustentava-o em uma vida não tão ruim. Ele tinha um gato.
- E qual o nome do seu gato?
- Meu gato não tem nome, eu só o chamo de gato. Acho que se eu colocar nele um nome vou acabar considerando-o como um amigo e passar a tratá-lo como pessoa. Mas as pessoas sempre vão embora… deixa ele ser apenas uma distração na casa! – disse ele rindo em palavras cansadas.
Interessante é que a relação entre eles ficou tão estreita que ela passou a chamá-lo de amigo e fazer dele confidente dos seus problemas. Estranho é que o velho nunca aparentava problemas, e a medida que os dias iam passando ele ficava mais aberto e mais emotivo, parando de falar sobre guerras para falar de sentimentos. O mundo já se resumia naquela sala, entre as imensas estantes de madeira repletas de livros e os segredos já caminhavam por ali, da boca de um para o ouvido do outro. Ela falou sobre a faculdade e das pessoas que há rejeitavam lá, da pressão dos seus pais, da desarmonia da sua casa. E a voz do seu novo amigo à acalmava:
- Nem todos nessa vida nos olham como pessoa, mas como objeto. Tenta não olhar por esse lado medíocre da vida caso contrário você vai se tornar tão medíocre quanto eles. Os poucos amigos que eu tenho me contam coisas terríveis e boas ao mesmo tempo, cabe a mim escolher o que quero guardar.
E quando ela perguntava sobre seus amigos ele dizia:
- Ah, são bons amigos. Eu os olho todos os dias. Acho que você vai acabar tendo uma certa intimidade com eles também. Um dia você vai conhecê-los melhor.
Há alguns dias ela passou a ir na casa dele ler alguns dos seus contos, porque ele começou a passar mal e já não podia ir muito à biblioteca. Uma gripe muito forte que o deixava na cama enquanto ela lia sentada em uma confortável cadeira de madeira. Ela descobriu também que ele já não tinha mais família mas sempre a recebia com um sorriso tão alegre que a fazia sentir em uma família completa. Ele tornou-se seu melhor amigo, em uma época em que ela não conhecia amigos de verdade. Ele há fazia olhar o mundo com mais simplicidade e calma, há fez sentir importante e compreendida. Não sei se ele sentia o mesmo por ela.
A gripe só piorou e ela se preocupava tanto que quando chegava em casa ligava pra ele e tentava fazê-lo relaxar até pegar no sono. Buscava as frases mais impressionistas e verdadeiras e ele ria do outro lado da linha dizendo:
- Não não, pode parar. Só seja você mesmo e diz que tá comigo mais essa noite. Eu não preciso desses discursos melancólicos. – e ria um riso cansado que há acalmava no seu quarto.

julho 10, 2009

Encontros urbanos # 5

ela já havia chegado em casa a algumas horas, recebida com ‘festa’ pelo seu melhor amigo. Fez o de sempre tirou o velho vans largou a bolso e correu para a geladeira, toddynho ligou o som e foi para o banho, àquela era apenas mais uma sexta feira entediante na qual o celular não iria parar de tocar, aceitou a proposta: bar, três cervejas, subway e dormir nesse dia ela resolveu no meio do caminho que não queria mais ir naquela rua encontrar as mesmas pessoas de sempre com suas historias e piadas sem graça já contadas, foi até o subway já estava tarde o céu estrelado visto da imensa avenida a tornava inacabável, perfeita. Aquele menino sentado brincando com suas chaves com um chaveiro em forma de nota musical a chamaram atenção e a fez imaginar por quais motivos ele estaria sentado ali, sozinho.
Sua imaginação era seu refugio.
Ficou com aquela cena em sua cabeça e seguiu até seu destino, já na fila ainda imaginando um alguém faz o pedido do seu ‘de sempre’ isso a deixou um tanto quanto ‘assustada’.
As cocas-cola acabaram ela tinha que ir, ‘ nos encontramos por ai’ o sorriso tímido daquele menino ficou gravado, era o mesmo chaveiro.
Depois do dia cansativo... Finalmente chegada a hora de ir, a musica que ecoava já tocava repetidas vezes em seus ouvidos, começaram a trazer a tona algumas lembranças na qual ela já havia esquecido propositalmente, aquele não era um bom dia e de alguma maneira tudo a aborrecia.
Quatro e cinquenta e três, banho.
Já era tarde. Ansiedade e certa angustia a levaram até o mercado, não conseguia mais ficar em casa, depois de andar pelos corredores e alguns chocolates e salgadinhos na mão, só lhe faltava o café, tudo ao chão pessoas desastradas e talvez com pressa.
Uma nota musical;